13 fevereiro 2016

Oswaldo Cruz chacoalha na tumba

O que eu mais vi até agora com relação ao Zika, microcefalia, dengue, chikungunya, nyong-nyong e os mais de duzentos tipos de vírus que o Aedes aegypti é capaz de proliferar, foi do "mise-en-scène" ao catastrofismo

E quase nenhuma informação concreta. A verdade.

No início do século 20, o sanitarista Oswaldo Cruz empreendeu uma verdadeira cruzada para erradicar a Febre Amarela e a Varíola no Rio de Janeiro, sob protestos da sociedade e da imprensa da época | Leonidas Freire (1882 - 1943) - O Malho, nº 111, 29/10/1904, Domínio público

Não se trata de questionar a gravidade da situação. Quero o nome dos irresponsáveis e é isso que não estou vendo.

De repente o já velho conhecido Aedes aegypti ocupa glamourosamente o noticiário e lança um oceano de dúvidas sobre nós, os pobres mortais.

O achismo em torno do assunto é o mais preocupante. A ânsia de evidenciar o mosquito pode na verdade estar camuflando a sucessão de erros e omissões por parte dos governos e das autoridades sanitárias.

Junte-se a isso a desinformação da população que não raro no Brasil é praxe. Ninguém fala, ninguém escuta, ninguém procura saber e se algum abnegado resolve por 5 minutos explicar a ligação entre as coisas, já é rotulado de chato.

A mim parece quase óbvio que a questão saneamento básico está no centro dessa celeuma. O relatório da Abrasco, aborda o assunto em uma nota técnica e confronta as soluções usuais adotadas pelo Poder Público. Um vídeo da TV Globo, também informa de maneira bem direta pequenos cuidados para se evitar o mosquito, a bióloga e pesquisadora da USP, Margareth Capurro, explica as preferências do Aedes e enfatiza a importância de erradicar possíveis criadouros dentro de casa.

Depois de ler a nota técnica da Abrasco e assistir o vídeo da pesquisadora, dá para concluir que o fator higiene é preponderante no fortalecimento ou enfraquecimento do Aedes.

O Brasil tem mais da metade da população sem acesso a saneamento básico. Em um ranking de 200 países o Brasil ocupa o 112º lugar, segundo o Instituto Trata Brasil. São mais de 100 milhões de brasileiros sem acesso a este serviço.

A combinação desses fatores pode estar muito mais associada aos surtos e eliminar o criadouro é mais importante que eliminar o mosquito. Ou seja, combater a causa e não o efeito.

Voltemos então a atenção à questão do saneamento básico

A campanha de Mobilização lançada hoje é um primeiro e importante passo, mas não vai surtir efeito onde o saneamento básico é deficitário. Os mutirões deveriam acontecer sob o comando das prefeituras, mudando as estratégias de eliminação do criadouro. Forças-tarefa ao estilo Oswaldo Cruz, que tão bravamente combateu a Febre Amarela e a Varíola no início do século 20 na então imunda cidade do Rio de Janeiro.

Movimentação política

O deputado federal Odelmo Leão (PP-MG), publicou hoje (13) uma nota em seu perfil no Facebook citando que diante da iminência de epidemias associadas ao Aedes e dentro de sua atribuição parlamentar, apresentou uma emenda à Medida Provisória 712/16 do governo federal, que propõe maior rigor na adoção de medidas de prevenção e vigilância em saúde no combate ao mosquito transmissor dos vírus da Dengue, Chikungunya e do Zika Vírus.

A emenda propõe a obrigatoriedade aos proprietários de imóveis desocupados e de estabelecimentos com áreas abertas com potenciais focos do inseto de serem responsabilizados, com multa, caso não tomem as medidas preventivas para eliminar os criadouros.

O texto também define a responsabilidade solidária a quem detenha legalmente a posse ou o uso dos imóveis, que, eventualmente estejam desocupados, inclusive, atribuindo essa responsabilidade às imobiliárias. A emenda também determina que haja campanhas educativas com visitas e supervisões periódicas nestes locais com maior risco de haver a proliferação do mosquito vetor das três doenças.

A mobilização pessoal

A atitude que talvez surta efeito mais rápido é a mobilização de quarteirões. Faça um mutirão em sua própria casa e verifique se não há nenhum candidato a criadouro de Aedes aegypti no seu próprio quintal. Na minha casa há mais de cinco anos cobri todas as janelas e portas com tela, eliminei todos os pratos de suporte aos vasos e enxugo a casa depois de uma chuva ou da faxina geral semanal. Tive dengue em 2004 e não quero repetir a experiência.

Evitar o criadouro é fundamental. Isso feito converse com seus vizinhos e sugira o mesmo. Ande pela calçada do seu quarteirão e avalie se existe algum lugar de risco e avise a Prefeitura.

Em Uberlândia temos o Serviço de Informação Municipal (SIM): (34) 3239-2800

Informe-se sobre os sintomas e boa sorte.

Enquanto escrevia esse texto, saiu a notícia de que o Rio Grande do Sul, suspendeu o uso do Pyriproxyfen, um dos larvicidas que é apontado na nota técnica da Abrasco que citei acima, por suspeita de provocar a microcefalia, também associada ao Zika-vírus.

Parece que o caminho para o consenso é longo e a solução mais rápida é mesmo a higiene da casa e do corpo. Coisa possível apenas para quem tem os meios para isso. 100 milhões ainda são grupo de risco.

No país em que os problemas de Educação, resolvemos com a Polícia Militar, os de Saúde com as Forças Armadas e mais da metade dos brasileiros não tem acesso a Saneamento Básico, a culpa é do mosquito. Oswaldo Cruz chacoalha na tumba.

08 fevereiro 2016

Cronologia rápida e aleatória de um país em surto

Pintura de Christoffer Wilhelm Eckersberg*

A construção da identidade de um país é óbvio, um longo processo que aglomera e separa aspectos positivos, negativos e neutros. No resumo e metafórico, um permanente cachorro caindo do caminhão de mudança

Não é o objetivo aqui desfiar um longo tratado, nem avaliar o processo histórico, nem acusar ou defender o que quer que seja, mas convidar para uma reflexão pessoal.

O mundo vem surtando há quinze anos, os saltos tecnológicos ligeiríssimos trouxeram uma geração que "smartphona", "whatsapeia" e outros tantos nomes que aparecem das mais inúmeras formas. Eles escrevem com o dedão, criam neologismos e definitivamente pensam mais rápido, muito mais rápido.

Essa geração não significa o novo, significa outra coisa. Ela é outra coisa e só o aspecto humano é que se parece com o que já estava por aqui.

Alguém que já estava aqui antes desse período, pode quando muito entender o movimento, mas não consegue participar dele, vai morrer nas beiradas. O fenômeno vai muito além da compreensão da maioria de idosos a partir dos 25 anos. Nada pode ser definitivo.

Pano rápido


Aqui vai um recorte no Brasil de 1960, efervescente, de capital recém inaugurada, de luzes no fim do túnel, de presidente disposto a varrer a bandalheira (precisa estudar história para entender o cenário anterior). E oito meses depois a vassoura quebra, o vice assume um caldeirão social fervente, a senzala (no sentido do livro de Gilberto Freire) vai para a rua, levanta bandeira, canta palavras de ordem, pede reforma agrária. Booom.

Uma coluna de tanques acabou com a festa, quem não voltou para casa, levou borrachada (no mais amplo sentido), quem insistiu, bem, só estudando a história. Um período triste, não o primeiro, não todo silêncio, mas de murmúrios vigiados.

Pensei aqui de relance, D. Pedro II de chapéu e casaca, na madrugada chuvosa, embarcando numa lancha da Marinha, de lá para o "Parnaíba" e finalmente ao "Alagoas" junto com a Família Real para o degredo permanente.

Na minha visão, erramos feio na primeira transição. A República nasceu "coxa", pesada, pelas mãos dos ilustres senhores do dinheiro de então. Desde aí e até hoje, vigora a mesma lei, a de que só as elites decidem os destinos do país, metafórica ou não.

Nos 21 anos de Regime Militar, mais do que o silêncio dos que questionavam e discutiam o país, foi a falta de continuidade na construção de lideranças, que geração após geração modificam o caráter de uma nação. Só tinhamos um lado.

E esse estigma permanece pairando sobre nossas cabeças. Nossa condução da vida nacional ainda vigora de forma piramidal de cima para baixo, embora de 1985 para cá possamos espernear relativamente mais. Ainda sem efeito. O segundo capítulo da novela, teve um intervalo de 21 anos. Só entende quem viveu para ver.

As intrigas palacianas

Teria mesmo que deitar cabeça, coração e olhos na história, para esclarecer a mim mesmo que paralelo existe entre Renan Calheiros, Eduardo Cunha, Dilma Rousseff, Michel Temer, o STF, o Congresso Nacional, os partidos e os interesses da elite que transitou entre a Monarquia e a República. O papel de Deodoro, Floriano, Benjamin Constant, Emilio Mallet, D. Pedro II, Princesa Isabel. E outros tantos, além da própria índole do brasileiro comum.

Minhas elocubrações apontam que o "nó górdio" acontece entre o Baile da Ilha Fiscal e o Alagoas singrando o Atlântico com a Família Real à bordo, que só retornariam depois de mortos, numa espécie de pedido de reconciliação e remorso.

Monarca deposto, entreolharam-se os republicanos, achando que era o trono vago a solução de tudo e que bastava alguém ocupar o assento e tudo seria melhor.

Cena que se repetiu inúmeras vezes nos sucessivos abalos dos governos posteriores, de Deodoro a Vargas, de Juscelino a Goulart, de Castello Branco a Figueiredo, de Tancredo a Dilma Rousseff.

Por enquanto uma história que só aconteceu no ambiente dos Palácios.

A síndrome da coroa que a exemplo da espada mitológica do Rei Arthur, só obedecia as ordens de seu verdadeiro dono. Uma coisa também parecida com o Martelo de Thor, que Loki busca arduamente possuir. Opsss.........

Loki, metafórico, como não pensei nisso antes? Patrono do caos e inventor da rede de pesca. Faz sentido. Será Loki o patrono das redes sociais?

É o espírito de Loki que governa nosso momento presente, era Loki na década de 1960 que chacoalhava o provincianismo que há muito tempo vigorava. Nossos períodos de "chumbo" representam Loki prisioneiro aos pés da serpente que pingava veneno no seu rosto. Agora Loki está livre novamente, sabe usar o smartphone, sabe que o mundo dos mortais está conectado

Considerado um símbolo da maldade e traição, Loki e suas artimanhas causam problemas de curto prazo aos deuses que acabam como grandes beneficiários de suas peripécias.

Quem sabe dessa vez, Loki acabe por beneficiar também os mortais?

Cai o pano.

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*Baldr está caído, mortalmente atingido pela flecha atirada por Höd, seu irmão cego que está em pé à esquerda, próximo às armas. Odin está sentado no centro do clã de deuses e Thor à sua esquerda. Yggadrasil e as Nornas podem ser avistados ao fundo e Loki (a mão e os olhos que "ajudaram" Höd a mirar a flecha) na extrema esquerda da imagem, tenta disfarçar seu sorriso

06 fevereiro 2016

Você conduz a sua vida a partir das suas escolhas

Dito isso, não adianta você apontar o dedo para qualquer pessoa, situação ou coisa, querendo definir as regras.

Aliás, regras, devem limitar-se ao respeito pela minha integridade física: - Não me toque sem permissão e se dei permissão não me machuque. Tem que haver consenso e a dimensão do toque é proporcional.

As outras limitações estão no nosso controle pessoal:

-Se não gosto, não olho, não como, não ouço, não frequento, não falo sobre.

Opinião a gente guarda, avalia o resultado e aprimora o caráter.

Você não gosta de diversidade, problema seu, vai ter que arranjar um caminho para entender que ela existe e o ser humano não pode ser classificado segundo os seus restritos padrões de compreensão.

Aquilo que não pode ser feito, já está descrito na legislação. Cor de pele, condição sócio-econômica, diversidade de gênero, orientação religiosa, pessoas com deficiência, idosos, para todo lado que você olhar vai perceber que existe e não é você quem define isso.

Isso lhe confere o poder necessário para conviver em harmonia com quem se posiciona diferente de você.

Se a pessoa tira a roupa em público, a lei prevê o que deve ser feito, se fala palavrões, ou realiza suas necessidades fisiológicas, ou expõe os órgãos sexuais, ou desfere um soco, um tapa, um tiro, a lei também prevê. 

Liberdade - Pondere o tamanho do espectro que essa palavra representa e veja se é capaz de praticar em mão dupla.

Amor incondicional - Esse é possível, inclusive em silêncio.

Nenhum de nós sabe o tipo de drama ou necessidade interior que uma pessoa vive. Querer colocá-la dentro dos nossos padrões “elevados” pode até condená-la à morte.

Nossas guerras e tragédias em geral nascem daí, desde que o mundo se conhece e está na hora de mudar isso.

Somos uma população. Estamos todos juntos, ocupando o mesmo lugar.

05 fevereiro 2016

Novos tempos demandam novos hábitos

As coisas mudam hoje, muito mais rápido do que há alguns anos e não existe meio de negarmos essa transformação.

Até os idos de 1970, São Paulo recolhia seu lixo em latas de 18 litros ou caixotes de madeira e depois da passagem do caminhão (carroça) no final da tarde ou pela manhã nos locais onde a coleta era realizada de madrugada, as donas de casa saíam atrás de seus respectivos recipientes.

No início de 1972 o prefeito Figueiredo Ferraz, assinou a lei que adotava o saco preto de polietileno como único acondicionador de lixo doméstico, depois de uma longa batalha para convencer a população que era o melhor método.

Naquela época o lixo doméstico era basicamente orgânico e destinado a usinas de compostagem ou incineradores, o conceito de limpeza urbana era outro, mas nosso foco aqui hoje é mudança de hábito. De lá para cá muita coisa se transformou e em nada lembra o ambiente daquela época.

A realidade atual exige novas abordagens nas questões de lixo e sustentabilidade, a própria cidade, que em muitos casos ainda funciona como antigamente precisa repensar sua dinâmica. Não existe simplicidade, nem inocência que caibam numa visão urbana.

Nem mesmo o saco de polietileno preto, pode ser visto como única alternativa para o lixo, nem o lixo pode ser encarado como foi 40 anos atrás.

Talvez, parcelas significativas das gerações atuais, ainda resistam bravamente às novidades, como coleta seletiva, engenharia reversa, água de reúso, mas as gerações que estão brotando agora, vão na fase adulta encontrar esse mundo que se formata agora e vão agir com naturalidade. Seus dilemas e resistências serão outros que sequer podemos imaginar.

Então vamos ensinar os pequenos sobre a importância do consumo consciente, da importância de se manter o equilíbrio nas questões de sustentabilidade, vamos plantar e regar os conceitos que estão bem diante deles e relativizar o mais possível assuntos como "lixo", "água", "sustentabilidade" e "cidadania", bem mais amplos do que aqueles que nos foram passados.

Iniciativas em escolas, mesmo que de forma tímida, vão fortalecendo o conceito Em Barbacena, a professora de Geografia, Letícia das Mercês Silveira Costa, desenvolve o projeto “Sabão Ecológico”, em Ribeirão das Neves a professora de Biologia, Márcia Aparecida Silva, utiliza materiais reciclados para a revitalização do espaço escolar. “Estamos construindo bancos com pneus, uma horta vertical com garrafas pet e fazendo o plantio de mudas”, conta.

O momento é de reflexão sobre o papel dos recursos naturais para a qualidade de vida e para o desenvolvimento sustentável, bem como para o planejamento de ações a fim de se atingir esses objetivos.
Governos fazem sua parte, mas sempre são mais lentos e pontuais; a força maior está nas mãos da população, que pode através de mobilização, envolver a comunidade, visando o bem comum.

No frigir dos ovos é o caso de estimular o conceito de evolução ao invés do conceito de crescimento. Evoluindo, você maximiza o uso dos recursos e melhora o planejamento, crescendo você terá que sempre dispender mais recursos.

São Paulo está aí para demonstrar o paradoxo das enchentes em determinados pontos da cidade e a falta d'água acontecendo simultaneamente, por conta do crescimento que não respeitou o uso consciente do solo.
E para encerrar, Uberlândia também oferece alternativas nas questões ambientais. Há serviço de coleta seletiva domiciliar, o "cata-treco", aterro sanitário e ecopontos distribuídos, para onde pode ser levado o resíduo sólido da construção civil e pequenos entulhos até 1 m³. Questão de habituar-se.

Nossas mães e avós, resistiram bravamente ao saco preto de polietileno, muitos de nós ainda resistem aos hábitos de consumo consciente e coleta seletiva.

Acredito que as gerações futuras tenham outros dilemas e que serão mais leves e mais rapidamente resolvidos.

jornal web Farol Comunitário

Pode acreditar

Tudo vale a pena se a alma não é pequena - Fernando Pessoa